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Homenagens

 

Carl Sagan.

.1934-1996 foi o período de vida de um ser humano que fez todos os esforços possíveis para despertar os seus iguais à grandiosidade do cosmo e à preciosidade da vida – bem como à necessidade de se encarar estes processos à luz da Ciência, para se evitar a aquisição de uma compreensão tipicamente equivocada e supersticiosa daquilo que está ao nosso redor e inclusive de nós mesmos. Afinal, “é muito melhor compreender o Universo como ele realmente é do que persistir num engano, por mais satisfatório e tranqüilizador que possa ser”, nos dizia Carl Sagan.

Dr. Sagan foi certamente o maior divulgador da Ciência da contemporaneidade, um mestre na arte de divulgar o conhecimento científico de modo inspirador, corajoso e poético. Como desabafou num dos parágrafos iniciais do capítulo Ciência e Esperança, de sua famosa obra O Mundo Assombrado Pelos Demônios (altamente recomendado): “Divulgar a ciência – tentar tornar os seus métodos e descobertas acessíveis aos que não são cientistas – é um passo que se segue naturalmente. Não explicar a ciência me parece perverso. Quando alguém está apaixonado, quer contar a todo mundo. Este livro é um testemunho pessoal de meu caso de amor com a ciência, que já dura toda uma vida”. A paixão com que o cientista dedicou-se ao estudo e divulgação da ciência ilustra-nos o quão em profundidade este homem buscou entender o seu mundo; e, para nossa sorte, compartilhar seu entendimento conosco. Com as palavras do cientista:

 

"Habitamos um universo onde átomos são formados no centro de estrelas, onde a cada segundo nascem mil sóis, onde a vida é lançada pela luz solar e acesa nos ares e águas dos planetas jovens, onde a matéria-prima para a evolução biológica é algumas vezes obtida a partir de uma explosão estelar na outra metade da Via-Láctea, onde algo belo como uma galáxia é formada cem bilhões de vezes; um Cosmos de quarks e quasares, flocos de neve e pirilampos, onde pode haver buracos negros, outros universos e civilizações extraterrestres cujas radiomensagens estão neste momento atingindo a Terra. Muito pálidas, em comparação, são as pretensões, superstições e pseudociências – como é importante para nós nos dedicarmos ao entendimento da ciência, este esforço caracteristicamente humano”.

Com sua formação multidisciplinar e talento para a expressão escrita, Carl Sagan legou-nos um formidável acervo de obras, dezenas delas, dentre as quais figuram clássicos como Cosmos – que foi transformado em uma premiada série de televisão, acompanhada por mais de meio bilhão de pessoas em todo o mundo –, Os Dragões do Éden, O Romance da Ciência, Pálido Ponto Azul e O Mundo Assombrado Pelos Demônios. Sem medir esforços para divulgar a ciência, Carl Sagan escreveu ainda o romance Contato – visando atingir o grande público interessado pelo gênero –, obra que foi inclusive levada para as telas de cinema, no ano posterior a sua morte. A última obra do autor – Bilhões e Bilhões – foi publicada postumamente por sua esposa e colaboradora Ann Druyan e consiste, fundamentalmente, numa compilação de artigos inéditos escritos por Sagan. De fato, fosse pela literatura científica formal ou de divulgação, pela televisão ou cinema, Carl Sagan buscou sempre oferecer ao público – leigo ou especializado – a mais completa e acessível visão científica dos fatos que se fez possível.

“É um desafio supremo para o divulgador da ciência deixar bem clara a história real e tortuosa das grandes descobertas, bem como os equívocos e, por vezes, a recusa obstinada de seus profissionais a tomar outro caminho. Muitos textos escolares, talvez a maioria dos livros didáticos científicos, são levianos nesse ponto. É muitíssimo mais importante apresentar de modo atraente a sabedoria destilada durante séculos de interrogação paciente e coletiva da Natureza do que detalhar o confuso mecanismo de destilação. O método da ciência, por mais enfadonho e ranzinza que pareça, é muito mais importante do que as descobertas dela”.

O analfabetismo científico que infelizmente caracteriza a maioria das pessoas sempre preocupou o espírito de Carl Sagan, que enxergava nisto uma porta aberta para os discursos dogmáticos e falaciosos que bombardeiam-nos a todo o momento, e que não tardam por lograr-nos a oportunidade de estabelecer um contato mais direto com a realidade que nos cerca. “Ignorância alimenta ignorância”, nos dizia Sagan; e sem dúvida o melhor antídoto para a ignorância é a Ciência, razão pela qual o cientista buscou por todos os meios popularizar o conhecimento científico.

“A ciência nos esclarece sobre as questões mais profundas das origens, naturezas e destinos – de nossa espécie, da vida, de nosso planeta, do Universo. Pela primeira vez na história humana somos capazes de adquirir uma verdadeira compreensão desses temas. Toda cultura sobre a Terra tem tratado deles e valorizado a sua importância. Todos nós nos sentimos tolos, quando abordamos essas questões grandiosas. A longo prazo, a maior dádiva da ciência talvez seja nos ensinar , de um modo ainda não superado por nenhum outro empenho humano, alguma coisa sobre nosso contexto cósmico, sobre o ponto do espaço e do tempo em que estamos, e sobre quem nós somos”.

Infelizmente, tal extraordinário ser humano que foi Carl Sagan deixou-nos em 1996, vitimado numa comovente luta contra o câncer. Desde então, resta-nos ao menos seguir o exemplo de sua humanidade.

 


 

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