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Poesias do Mês

Setembro/2009



A FLAUTA VÉRTEBRA

 

Autor:Maiakóvski, Vladimir

 

Tradutores (do russo): Campos, Haroldo de

                             Schnaiderman, Boris

 

                  Prólogo

 

A todos vocês,

que eu amei e que eu amo,

ícones guardados num coração-caverna,

como quem num banquete ergue a taça e

celebra, repleto de versos levanto meu crânio.


Penso, mais de uma vez:

seria melhor talvez

pôr-me o ponto final de um balaço.

Em todo caso eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.



Memória!
Convoca aos salões do cérebro

um renque inumerável de amadas.

Verte o riso de pupila em pupila,

veste a noite de núpcias passadas.

De corpo a corpo verta a alegria.

Esta noite ficará na História.

Hoje executarei meus versos

na flauta de minhas próprias vértebras.

 

Poesia extraída do site http://www.arteinsone.hpg.ig.com.br/vladimir_maiakovsi.htm

          

Agosto/2009

       

      O ARVOREDO

Autora: Bronte, Anne (1820-1849)
Tradução: Milhomens, Lia Pantoja

Vou repousar nesta protetora arcada,
E contemplar o céu azul claro,
Sobre mim a sorrir através das árvores,
Que se juntam em cerrado aglomerado;

E ver as suas folhas verdes e brilhantes,
Todas reluzentes ao sol esfuziante;
E registrar o murmúrio das suas ramas,
Através do ar suavemente sussurrante.

E, enquanto meus ouvidos o som absorvem,
Minha alma alada para longe voa,
Revendo solitários passados anos,
Como um suave, radioso, dia de outono;

E pairando sobre cenas do futuro,
Tais como colinas e bosques, e verdes vales,
Todos ao sol de verão se banhando,
Mas ainda distantes palidamente vistos.

Oh, observa! É o próprio sopro do verão,
Que suavemente balança as árvores
- Mas olha! A neve está no chão.
- Como posso imaginar essas cenas?

É apenas a GEADA que limpa o ar,
E dá ao céu este adorável azul;
Estão sorrindo, em um sol de INVERNO,
As sempre-vivas de matiz sombrio.

E a frieza do inverno está no meu coração.
- Como eu posso sonhar com um futuro feliz?
Como pode o meu espírito pairar tão longe,
Aprisionado por uma corrente como esta?

O original, em inglês, foi  compilado de  :Poems By Currer, Ellis and Acton Bell. Charlotte, Anne and Emily Bronte. Philadelphia: Lea and Blanchard, 1848

 

Julho/2009

O ALBATROZ

Autor: Baudelaire, Charles
Tradução: Almeida, Guilherme de
 
Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatoz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.
 
Mal o põem no convés por
sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.
 
Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!
 
O poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
As asas de gigante impedem-no de andar.

 

Março/2008


                      TU ÉS...

Autor: Assis Lima, Francisco de

 

Tu és como a mais linda e sensível rosa
Que nasceu entre espinhos só para encantar
A todos que te cercam com carinho e amor
E a todos que te vêem com bons olhos
              e admiram.

 

Tu, para mim, és como a minha mais
       viva e verdadeira realidade !
És como a minha mais pura e rica
              Esperança!
És o espelho da minha doce vida,
És a esperança dos meus sensíveis olhos.

 

E, assim como a luz do sol bate e reflete
             no espelho,
Gostaria que os teus tão lindos olhos
Estivessem sempre bem refletidos
              Em mim...
         

Janeiro/2007



CECÍLIA MEIRELES

TRÊS POEMAS

I

CANÇÃO EXCÊNTRICA

Ando à procura de espaço...
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida...
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
projeto-me num abraço
e gero uma despedida.

Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.
Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço,
por esta procura de espaço
para o desenho da vida.

Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço,
- do que faço, arrependida.


II

AQUI ESTÁ MINHA VIDA

Aqui está minha vida.
Esta areia tão clara
com desenhos de andar
dedicados ao vento.

Aqui está minha voz,
esta concha vazia, sombra de som
curtindo seu próprio lamento.

Aqui está minha dor,
este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu
patético momento.

Aqui está minha herança,
este mar solitário
que de um lado era amor e,
de outro, esquecimento.

III
OU ISTO OU AQUILO


Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares!

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares.

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo. . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.


Dezembro/2007


O RETORNO

Autor: Pound, Ezra
Trad.: Milhomens, Lia P.


Olha, eles retornam; ah, vê a tentativa .
Movimentos,e os pés,vagarosos,
O ritmo falho, e o incerto
Oscilar !


Olha, eles retornam, um a um,
Com medo, como se meio-acordados;
Como se a neve hesitasse
E murmurasse ao vento,
dando meia-volta;
Estes eram os “Voadores- com- Temor”,
Invioláveis .

Deuses do sapato alado!
Com eles, os cães de caça prateados,
aspirando o rasto no ar !


Haie! Haie!
Estes eram guinchos para apressar;
Estes os olfatos-aguçados;
Estes eram os espíritos de sangue.

Devagar na trela,
Pálido o homem-atrelado!


Novembro/2007

 


AMAI-VOS...
 
Autor: Gibran, Khalil
Trad.:Becker,Bettina
 
 
Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um grilhão.

Que haja, antes, um mar ondulante
entre as praias de vossa alma.

Enchei a taça um do outro,
mas não bebais da mesma taça.

Dai do vosso pão um ao outro,
mas não comais do mesmo pedaço.

Cantai e dançai juntos,
e sede alegres,

mas deixai
cada um de vós estar sozinho.

Assim como as cordas da lira
são separadas e,
no entanto,
vibram na mesma harmonia,

Dai vosso coração,
mas não o confieis à guarda um do outro.

Pois somente a mão da Vida
pode conter vosso coração.

E vivei juntos,
mas não vos aconchegueis demasiadamente.

Pois as colunas do templo
erguem-se separadamente.


 

Outubro/2007


ESTE É O PRÓLOGO

Autor: Garcia Lorca, Federico
Tradutor: Agel de Melo,William

Deixaria neste livro
toda minha alma,
este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.

Que pena dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!

Que tristeza tão funda
é olhar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!

Ver passar os espectros
de vidas que se apagam,
ver o homem desnudo
em Pégaso sem asas,

Ver a vida e a morte,
a síntese do mundo,
que em espaço profundo
se olham e se abraçam.

Um livro de poesias
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,

E a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes incute nos peitos
- entranháveis distâncias.

O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchas
de chorar o que ama.

O poeta é o médium
da Natureza
que explica sua grandeza
por meio de palavras.

O poeta compreende
todo o incompreensível
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chamas.

Sabe que as veredas
são todas impossíveis,
e por isso de noite
vai por elas com calma.

Nos livros de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristes
e eternas caravanas

Que conduzem o poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.

Poesia é amargura,
mel celeste que emana
de um favo invisível
que as almas fabricam.

Poesia é o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
corações e chamas.

Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
sem rumo a nossa barca.

Livros doces de versos
são os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
suas estrofes de prata.

Oh ! que penas tão fundas
e nunca remediadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam!

Deixaria neste livro
toda a minha alma...


Setembro/2007


AS ESTAÇÕES HUMANAS

Autor: Keats, John
Trad.: Milhomens, Lia Pantoja

Quatro Estações completam inteiramente o ano;
Existem quatro estações no coração humano :
Primeiro, sua ardente Primavera, quando , livre, a fantasia
Veste-se de toda beleza em suave ânsia ;
Ele tem o seu Verão, quando luxuriantes ,
Repetem-se os doces pensamentos juvenis da Primavera , que ele ama
Repensar , e assim, por esse sonho enlevado,
Ao paraíso é quase alçado:abrigo delicado
Tem sua alma em seu Outono, quando suas asas
Fechadas quedam ; contenta-se ele em olhar apenas
Através das névoas do repouso – belas coisas são deixadas,
Tais como o limiar de um riacho ,de serem miradas .
Ele tem seu Inverno também, de imprecisa forma pálida ,
Ou então sua natureza mortal seria por ele renunciada .


Agosto/2007

 

A UM CORAÇÃO

Autor: Castro Alves, Antonio Frederico

Ai! Pobre coração! Assim vazio
E frio
Sem guardar a lembrança de um amor!
Nada em teu seio os dias hão deixado!...
É fado?
Nem relíquias de um sonho encantador?

Não, frio coração! É que na terra
Ninguém te abriu... Nada teu seio encerra!

O vácuo apenas queres tu conter!
Não te faltam suspiros delirantes,
nem lágrimas de afeto verdadeiro...

É que nem mesmo — o oceano inteiro —
Poderia te encher!...


Julho/2007

DIA DO POMBO DA PAZ
Dia: 20 de setembro
Homenagem às Pombas


Vai-se a primeira pomba despertada ...
Vai-se outra mais ... mais outra ... enfim dezenas
de pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüínea e fresca a madrugada .

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo, elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada ...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um , céleres voam
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem ... Mas aos pombais as pombas voltam
E eles aos corações não voltam mais ...

Raimundo Correia


Julho/2007

ELEGIAS

Autor : Johann Wolfgang Goëthe
Tradutor :: Lia Pantoja Milhomens
(a partir da versão espanhola)

 

Livro Primeiro

 

Elegias Romanas

 

Do que felizes outrora fomos
Temos de por vós agora haver cuidados.

 

Dizei, Pedras! Falai, egrégios Palácios!
Ruas, só uma Palavra ! Gênio, não te agitas?
Sim, tudo tem alma em teus sagrados Muros
Eterna Roma; somente ante mim permaneces em silêncio.
Oh, quem me dirá em um sussurro em que Janela eu verei
um dia a doce Criatura que, abrasando-me me alivie ?
Não intuo senão os caminhos pelos quais sem cessar,
indo a sua casa e voltando, sacrifique o precioso Tempo?
Ainda contemplo Igreja e Palácio, Ruínas e Colunas,
como o prudente Homem que a Viagem aproveita.
Mas logo termina : avista-se um Templo único,
O Templo do Amor, aquele que o Iniciado recebe.
Todo o mundo és tu, ó Roma; mas sem Amor
então mundo não seria Mundo; então, pois, Roma não seria Roma.



Junho/2007

                      RUBÁIATA        

Autor : Omar Khayyam

Trad.para português,a partir do inglês: Lia  Pantoja Milhomens

Versão Literal:

A caravana da vida sempre
passará.
Cuidado, que é fresca e
doce a jovem relva!
Não temas sobre o que amanhã se amassará!
Enche a minha  taça,ai de mim,que esta noite passará!

Versão Interpretada :

Estar ciente de  cada momento passante
É viver no agora, e estar presente!
Temer o amanhã não te fará prudente,
Mas,cuidando do agora, tua mente se fará contente!

Versão de Fitzgerald :

Um Momento, em alguma Alegria usado,
Um momento, do Bem da Vida experimentado --
As Estrelas se agrupam, e a Caravana parte
P'ra alvorada do Nada -- oh!
é bom apressar-te!

Versão alemã :

Diese Lebenskarwane ist ein
seltsamer Zug,
Drum hasche die flüchtige Freude im Elug!
Mach' Dir im künftigen Gram keine Sorgen,
Fülle das Glas,bald naht wieder der Morgen!

 

Nota da tradutora :

      A rubáiata   é uma forma poética utilizada  pelo grande matemático,astrônomo  e poeta    persa   Omar Khayyam, da   antigüidade, escrita  originalmente   em língua persa. Ele escreveu milhares  de rubáiatas. Elas têm um  sentido  não só poético, mas também   filosófico e   têm   sido  interpretadas  por diversos  autores em todo o mundo,nos vários séculos,desde que foram escritas.

    
   O   nome     "rubáiata"  tem    origem  no    radical da palavra árabe para o número  4 ,  porque   se  trata de uma "quadra", isto é,um poema de uma    só  estrofe    de quatro versos (ou  de quatro  linhas).

          A     particularidade  da Rubáiata é que, além  de conter uma idéia poética   inteira  em suas quatro linhas,  contém  um postulado   filosófico completo  nelas.  

        
Acima    transcreveu-se apenas  uma  rubáiata,traduzida  do árabe para o inglês e do inglês para o  português.

        As 4 versões que   apresentamos são as mais conhecidas  mundialmente.

 

 

Maio/2007

SER MÃE

Autor : Coelho Neto


Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
Lábio que suga, o pedestal do seio,
Onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.

Ser mãe é ser um anjo que se libra
Sobre um berço dormindo! É ser anseio,
é ser temeridade, é ser receio,
É ser força que os males equilibra!

Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
Espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!

Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!

Coelho Neto, escritor brasileiro, nasceu em Caxias, Maranhão no dia 20 de fevereiro de 1864 faleceu no Rio de Janeiro no dia 28 de novembro de 1934


Abril/2007

 

SE

Autor : Rudyard Kipling
Trad. : Guilherme de Almeida

 

Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.

Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!


 


 

Março/2007

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO

Autor : William Shakespeare
Trad.: Barbara Heliodora
(Personagens : Titânia - rainha das Fadas : Oberon - rei dos Faunos) Puck - duende a serviço de Oberon)

 

Ato II
Cena I
Uma Floresta perto de Atenas

Titânia
Nem por todo o seu reino. Vamos, fadas;
Ficando mais, temos brigas armadas.

(Saem Titânia e seu séquito)

Oberon
Vá, mas não pense que deixa a floresta
Sem ser punida por tamanha injúria.
Meu bom Puck, venha cá. Você se lembra
Da vez em que eu sentei num promontório
E ouvi uma sereia, num golfinho,
Cantar em tons tão doces da harmonia
Que domou o mar rude com seu canto
E as estrelas saltaram das esferas,
Para ouvir o canto da sereia?

Puck
Eu lembro.

Oberon
Naquele dia eu vi (mas você não),
Flutuando entre a terra e a lua fria,
Cupido todo armado; ele mirou
Numa vestal que vive no Ocidente,
E disparou a flecha de seu arco
Com amor para matar cem corações.
Porém a seta em fogo de Cupido

Apagou-se nas águas do luar
E a imperial donzela prosseguiu,
Meditando com livre fantasia.
Eu reparei onde caiu a flecha:
Numa pequena flor, outrora branca,
Que as feridas do amor fizeram roxa -
As moças chamam-na de amor-perfeito.
Busque-me uma flor dessas, cujo suco,
Pingado em pálpebras adormecidas,
Faz aquele que dorme apaixonar-se
Pelo primeiro ser vivo que vir.
Apanhe-me essa planta e volte aqui,
Mais rápido que o monstro do oceano.

 

Puck
Eu dou a volta neste globo inteiro
Em quarenta minutos.(Sai)

Oberon
Tendo o suco,
Espero ver Titânia adormecida
E derramo o licor sobre seus olhos.
Seja o que for que veja, ao acordar
(Seja um leão, um touro, lobo ou urso,
Seja um macaco ou seja
um mico),
Ela o perseguirá apaixonada.
E antes que de seus olhos tire o encanto
(O que eu posso fazer com uma outra erva)
Farei com que ela a mim entregue o pajem.
Mas quem vem lá? Como eu'stou invisível,
Vou escutar o assunto em discussão.

(Entram Demétrio, seguido por Helena)


Fevereiro/2007



ÀS POMBAS

Janeiro/2007


Vai-se a primeira pomba despertada ...
Vai-se outra mais ... mais outra ... enfim dezenas
de pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüínea e fresca a madrugada .

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo, elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada ...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um , céleres voam
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem ... Mas aos pombais as pombas voltam
E eles aos corações não voltam mais ...

Raimundo Correia

 

 

 

 


 

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