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Três grandes pensadores da nossa época.

Vamos chamar aqui a descrição de três grandes pensadores da nossa época que, de maneira singela, esclarecem a forma natural de aquisição da cultura geral durante a existência humana.

 

Mika Waltari:

“Foi durante as refeições na varanda que recebi as primeiras lições de meu pai. Atravessava o jardim, cansado, vindo da rua ou do seu consultório com as vestes cheirando a ungüentos e drogas. Minha mãe lhe despejava água nas mãos, e depois nos sentávamos em bancos; mamãe nos servia. Certas ocasiões, enquanto estávamos sentados ali, acontecia passar um bando de marinheiros fazendo celeuma de bêbados, batendo com paus nas paredes das casas, ou parando para defecar junto aos troncos das acácias. Meu pai, que era um homem discreto, não dizia nada até eles irem embora: depois, sim, me dizia :
- Somente um imundo faz isso na rua; um egípcio só o fará entre paredes.

Ou então comentava :

- O vinho, tomado com moderação, é um dom dos deuses e alegra nossos corações. Um copo não faz mal a ninguém. Dois, desatam a língua; mas o homem que bebe um jarro de vinho, dorme para, ao acordar, se ver na sarjeta, roubado e batido.

A Família de Neferherenptah (fotógrafo anônimo)
Escultura com pintura em pedra polida , 39x65 cm
Local : Cemitério de Giza, Túmulo de Neferherenptah
Escavação de S.Hassan Escavações, 1936
Cairo Antiquities Museum

Quando eu ainda era criança meu pai consentia que eu assistisse às suas consultas; mostrava-me seus escalpelos, instrumentos e boiões de remédio, e explicava para que serviam. Enquanto examinava os doentes eu me postava perto dele, segurando e lhe passando bacias com água, panos, roupas, óleo e vinho. Minha mãe não tinha coragem de ver feridas e chagas, jamais compreendendo o meu interesse por tais coisas. Uma criança não percebe o que seja sofrimento enquanto não o experimenta. Para mim o lancetar de uma pústula era uma operação sensacional, e não deixava de contar aos demais meninos o que vira, a fim de lhes ganhar o respeito. Sempre que chegava um paciente novo, eu acompanhava o exame de meu pai, bem como as perguntas; prestava muita atenção até ouvi-lo declarar : “Esta doença pode ser curada”, ou “vou-me encarregar do seu tratamento”. Havia casos para cujo tratamento ele não se sentia competente. Então escrevia algumas linhas numa tira de papiro e mandava os doentes para a Casa da Vida, no templo. Depois que algum doente assim saía, papai habitualmente dava um suspiro, meneava a cabeça e dizia : “Pobre criatura !”. (In “O Egípcio”, de Mika Waltari, trad. De José Geraldo Vieira, Ed. Itatiaia Limitada, Belo Horizonte, 1985, págs. 15/16)


Sua Santidade, o Dalai-Lama:

“ Ao examinar os antídotos para a ansiedade, o Dalai-Lama oferece duas soluções, cada uma atuando num nível diferente. A primeira envolve um combate enérgico à preocupação e ruminação crônica, através da aplicação de um pensamento neutralizador : relembrando-nos de que se o problema tiver uma solução, não há necessidade de preocupação. Se ele não tiver solução, também não faz sentido nos preocuparmos.

O segundo antídoto é uma solução de alcance mais amplo. Ele envolve a transformação da nossa motivação fundamental. Há um contraste interessante entre o enfoque do Dalai-Lama quanto à motivação humana e o da psicologia e da ciência ocidental.

Ao passo que os “especialistas em motivação” estão ocupados insuflando as chamas de motivos já existentes para o sucesso material, e que os teóricos ocidentais dedicam sua atenção total a categorizar os padrões das motivações humanas, o interesse primordial do Dalai-Lama pela motivação humana reside em reformular e mudar nossa motivação fundamental por uma motivação voltada para a compaixão e a benevolência.

Tomar distância, simplesmente ter certeza de que não pretendemos prejudicar ninguém e de que nossa motivação é sincera podem ajudar a reduzir a ansiedade em situações normais do dia-a-dia.” ( In “A Arte da Felicidade – A superação de obstáculos”, de Sua Santidade, o Dalai-Lama e Howard C. Cuttler, Trad. Waldéa Barcellos, Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2000, págs. 308/311).



Jostein Gaarder :

“Qual é a coisa mais importante da vida? Se fazemos esta pergunta a uma pessoa de um país assolado pela fome, a resposta será : a comida. Se fazemos a mesma pergunta a quem está morrendo de frio, então a resposta será : o calor. E quando perguntamos a alguém que se sente sozinho e isolado, então certamente a resposta será : a companhia de outras pessoas.

Mas, uma vez satisfeitas todas essas necessidades, será que ainda resta alguma coisa de que todo mundo precise? Os filósofos acham que sim. Eles acham que o ser humano não vive apenas de pão. É claro que todo mundo precisa comer. E precisa também de amor e de cuidado. Mas ainda há uma coisa de que todos nós precisamos. Nós temos a necessidade de descobrir quem somos e porque vivemos.
Para muitas pessoas, o mundo é tão incompreensível quanto o coelhinho que um mágico tira de uma cartola que, há poucos instantes, estava vazia.

No caso do coelhinho, sabemos perfeitamente que o mágico nos iludiu. Quando falamos sobre o mundo, as coisas são um pouco diferentes. Sabemos que o mundo não é mentira ou ilusão, pois estamos vivendo nele, somos parte dele. No fundo, somos o coelhinho branco que é tirado da cartola. A única diferença entre nós e o coelhinho branco é que o coelhinho não sabe que está participando de um truque de mágica. Conosco é diferente. Sabemos que estamos fazendo parte de algo misterioso e gostaríamos de poder explicar como tudo funciona.” (In “O Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder, Trad. João Azenha Jr., Ed. Cia das Letras , 2001, São Paulo, págs.24/26)


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