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English version
 

O Crocodilo e o Macaco

 

 

Um jovem macaco disputava com os companheiros os frutos vermelhos e maduros dos galhos da árvore que eles habitavam. A disputa entre eles foi tão grande que ele acabou por lhes voltar as costas e lhes disse que iria procurar uma árvore só para ele, uma árvore onde ele não deixaria vir nenhum deles. E assim ele fez!

 

Uma bela árvore se debruçava à beira de um grande lago. Nesse lago vivia um crocodilo. O crocodilo se encontrava bem acomodado no seu lago.

 

Os frutos saborosos lhe caíam direto da árvore dentro da goela, em tão grande quantidade que ele quase não tinha nem tempo de engoli-las . E foi justamente sobre essa árvore que o pequeno macaco veio se instalar. Ele havia trazido em seus braços uma provisão de pedras, a fim de poder colocar para correr os outros macacos da sua árvore escolhida.

 

O crocodilo estava justamente dormindo a essa hora. Quando acordou, ele bocejou , abrindo a grande goela, limpou seus olhos, coçou as costas em uma velha raiz e se aproximou da margem para comer. Ele abre a grande goela, esperando que algum fruto lhe caia. Bum ! Alguma coisa caiu. O crocodilo a morde com um enorme apetite - e fica feliz porque não quebrou todos os seus dentes !

 

"Será que estou louco ?" ele se perguntou. "Desde quando pedras sobem para as árvores ?" Ele cospe a pedrinha, e retorna à sua posição, goela aberta. O macaquinho olha por entre as folhagens e pan ! Atira outra pedra.

 

"É estranho", se diz o crocodilo. "Esta árvore parece atiradora. Vai ver que está toda petrificada. E eu, então, o que é que vou comer ? Eu não vou me alimentar de pedrinhas, na minha velhice ! Embora seja um crocodilo velho, não mereço tal sorte."

Enquanto se lamentava assim, ele percebeu, sobre sua cabeça, que alguém ria.

 

" Aí em cima tem alguém ?" perguntou ele. "Ou é essa árvore atiradora que está rindo de mim ?"

 

O macaquinho coloca sua cabeça entre os galhos e aponta uma pedrinha com a ponta afiada justamente para o nariz do crocodilo. O infeliz, com dor, fica em lágrimas que jorram de seus olhos. E o macaco grita, do alto de sua árvore :

 

"Desculpe-me, nobre crocodilo, mas eu não tenho mais pedrinhas pequenas."

 

"Desça daí, seu grosso !",vocifera o crocodilo. "Essa árvore me pertence !"

 

"Se ela é tua, não sou eu que vou tirá-la de ti ", ironizou o macaco. " Sobe pelos galhos e vem me expulsar, se tu não tens medo."

 

"E eu ia lá ter medo de um pequeno aborto como tu ! Vem antes, tu, me atracar dentro d'água, e eu te baterei a pele peluda, a ponto de não sobrar nenhuma pulga para te picar."

 

"A mim minhas pulgas não incomodam", retorquiu o macaco . "Vem antes, aqui em cima, tu, e eu vou curtir tanto a tua pele , a tal ponto que tu não terás mais necessidade de fazer a troca dela", caçoa o macaco e ataca com tal ardor os frutos, que o crocodilo fica com água na boca. O velho lagarto ainda rosna um momento, esbraveja, jura e ameaça, mas enfim ele muda de tom e começa a implorar ao outro :

 

"Dize-me então, amigo, eh, tu, aí no alto ! Joga para mim qualquer fruto para eu colocar entre os dentes. Eu não te quero mal, eu, mesmo em sonhos, nunca pensei em te comer. E se tu quiseres, eu permitirei que bebas a água do lago."

Mas o macaco não era tão tolo de se deixar tentar.

 

" Eu não tenho sede nenhuma, compadre crocodilo. E se tu tens fome, tu podes sempre encher o teu ventre com pedrinhas do rio." Bum ! Ele lhe atirou em plena cara, uma pedra grande.

 

" Fica avisado, a tua vez vai chegar, avarento danado", esbraveja o crocodilo que mergulha na água mais profunda da beira do lago, para enganar as terríveis cólicas de seu ventre. Mas é impossível dormir, tal é sua fome , tanta, que por um pouco não come a própria cauda.

 

"Vamos, macaco, façamos a paz ! " acabou ele por pedir, então. " Tu me jogas alguns frutos e eu te levarei à casa de minha mãe, na outra margem do lago, um campo de nozes. Minha mãe tem tantas nozes em sua árvore, que as distribui a todos os macacos."

 

Nozes ? isso sim, deixou o macaco bastante tentado. Além do mais, depois de tanto comer, estava começando a ficar com sede e tinha necessidade de beber a água do lago.

 

" Bom, de acordo, façamos a paz" , aceita ele, e atira na goela do crocodilo um punhado de frutos bem suculentos. " Mas agora, deixe-me chegar um pouco na beirada do lago, porque eu vou beber água, e eu não quero que te venha a idéia de abocanhar meu pequeno ventre assim bem redondinho. E não se esqueça de me levar às famosas nozes !"

No dia seguinte de manhã, o crocodilo nada até debaixo da árvore , e diz:

 

"Aconteceu uma coisa ruim, amigo macaco! Minha mãe ficou gravemente doente, ontem à tarde. Ela não está mesmo nem com vontade de falar. Ela está rouca, ela tosse, ela se arrepia de febre, e todos os seus membros tremem. Tu , tu és um grande sábio, macaco, eu não posso me comparar a ti ! Presta-me um pequeno serviço, acompanha-me até ela para examiná-la. Ela te dará todas as nozes que nascem do outro lado do lago."

 

Isso incha o macaco de orgulho, pois o crocodilo o considera um espírito superior e aceita o pedido voluntariamente. Ele se instala sobre o dorso do crocodilo, e eles assim vão nadando até a margem oposta. Mas no meio do lago, o crocodilo diz de repente :

 

"Tu não sabes o que dizem os velhos crocodilos, amigo macaco ? Eles dizem que o melhor remédio para as doenças dos crocodilos é um coração de macaco. É por isso que eu ainda não te abocanhei. Eu estou te reservando para minha mãe, para que ela fique boa com o teu coração."

 

O macaco se sobressalta de medo, mas logo em seguida ele tem uma idéia para se defender e responde :

 

" Por que tu não me disseste isso antes, meu amigo ! Eu tenho uma imensa vontade de trazer a saúde para tua mãe, mas eu não trouxe o meu coração comigo. Eu jamais o trago quando eu saio de casa; todo macaco faz assim. Tu nunca ouviste falar disso ?"

 

"Palavra, não, jamais ouvi dizer isso ", se admira o crocodilo. "Para que é que acontece isso com vocês, seus macacos bandidos, de passear sem o seu coração ?"

 

"Para que ele não nos salte pela garganta, quando nós passeamos de árvore em árvore . Eu não imaginei que tu pudesses me transportar tranqüilamente em teu dorso; então, como de hábito, eu deixei meu coração enganchado em um galho, entre as folhas. Se tu quiseres, nós retornamos e eu o irei apanhar."

 

O crocodilo era um tolo, tão idiota como nenhum outro crocodilo jamais foi. Ele faz meia-volta e nada até a margem de partida, onde deposita o macaco,e lhe recomenda :

 

"Não demores muito, senão mamãe vai ficar impaciente e vai me bater !"

 

O outro, malicioso como um macaco, disfarçado, lhe responde com uma voz apaziguadora :

 

"Fique tranqüilo, irmãozinho ! Basta abrir bem a goela, e eu vou jogar dentro dela, suavemente, o meu coração, fica atento para não o machucar."

 

Quando o crocodilo abre a enorme goela, bum ! o macaco joga lá para dentro dela uma pedra grande como uma cabeça, que ele havia retirado da margem do lago antes de subir na árvore. E fala bem alto para o outro, ainda atordoado :

 

" Toma bem nota disso , seu traidor ! Quem quer enganar o outro acaba tendo o prejuízo. O macaco mais idiota sabe disso !"

 

O crocodilo, furioso, quer responder com brutalidade; a pedra está presa no fundo da garganta e o asfixia. Eis o que aconteceu ao crocodilo idiota. Nesse caso o mal realmente retornou, para ele !

 

 

Fonte : LEGENDES ET CONTES

Contes d'Indonesie - Ed. Gründ , Paris, 1979

Trad., a partir do francês : Lia Pantoja Milhomens

 


 

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