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O Coliseu romano guarda até hoje o calor dos feitos heróicos que se
passaram em sua arena. Ali, a graça do martírio penetrou profundamente
e legou à Cristandade uma de suas mais gloriosas páginas. O exemplo
do primeiro bispo de Antioquia encerra toda a doçura e a
força com que a Santa Igreja lançou suas divinas raízes. |
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Quem já teve a oportunidade
de viajar para Roma
e conhecer seus antiqüíssimos
monumentos obras-primas da
inteligência e da capacidade de nossos
ancestrais certamente terá experimentado
uma forte atração ao deparar
com o anfiteatro Flaviano, mais conhecido
pelo nome de Coliseu.
Sólido e bem edificado, com suas
galerias de arcos tipicamente romanos,
ele atravessa os séculos, insensível
ao tempo, como imagem de um
passado que poucos sabem admirar.
Com efeito, hoje em dia o Coliseu é
objeto da incessante curiosidade dos
turistas que o visitam durante todo o
ano. Muitos formam intermináveis filas
para nele ingressar, com o desejo
de fotografá-lo e depois vangloriar-se de ter estado num dos locais mais famosos
do mundo; outros percorrem no
com o mero intuito de constatar
seu valor artístico e estrutural; poucos
são, porém, os que para lá se dirigem
na intenção de rezar.
O Coliseu, teatro de crueldades
O imperador Vespasiano, invejoso
da afetuosa lembrança que o povo
guardava a respeito de César Augusto
e sabendo que este, antes da sua morte,
prometera construir um imenso anfiteatro
que excedesse em esplendor
todos os edifícios do mundo, concebeu
a idéia de realizar este plano e assim
rivalizar em fama com aquele seu
predecessor. No segundo ano após
sua ascensão ao trono (72 d.C.),
Vespasiano iniciou sua obra. Entretanto,
também a ele não seria
dado ver o objeto de suas ambições,
e a morte colheu-o antes de
ser completada a construção, que
só seria dedicada no ano 80 d.C.,
por seu filho Tito. Este último teve
grande parte na ereção do anfiteatro,
empregando nos trabalhos
aproximadamente 50 mil prisioneiros,
trazidos de sua vitoriosa
campanha na Judéia.
Construída especialmente para
ser palco daqueles jogos de
gladiadores que os romanos tanto
apreciavam, a gigantesca mole estava,
porém, reservada para servir
de quadro a combates de fé e
de heroísmo muito mais gloriosos
do que desprezíveis eram aqueles
espetáculos pagãos! Se os divertimentos
do Coliseu deixaram uma
mancha no passado por causa das
horríveis cenas de crueldade ali
representadas, outros fatos, sob o
ponto de vista sobrenatural, constituem
uma das mais belas páginas
da história da Santa Igreja.
Pedestal de bem-aventurados É com espírito de piedade
que deve penetrar no Coliseu o
verdadeiro peregrino católico.
Bastará permanecer em silêncio
por um curto tempo, para perceber
os imponderáveis e inverossímeis de
fé, força e coragem que habitam sob
essas numerosas arcadas. É evocativo
esse edifício, no qual cada pedra tem
um belo fato para contar e até as gramas
e os musgos mais recentes desejariam
dizer uma palavra sobre aquele
passado feito de sangue, dor e glória.
Contemplando mais detidamente
essa arena, outrora pedestal de tantos
bem-aventurados, podemos ainda
divisar os compartimentos onde as
feras eram mantidas na fome. Vê-se
também ao lado destes as celas que
aprisionaram os que hoje constituem
uma verdadeira legião, no gozo da visão
beatífica. Essas veneráveis ruínas,
nas quais refulge um misterioso
brilho sobrenatural, parecem cantar,
ao longo dos séculos, a célebre frase
latina: sine sanguine non fit remissio;
lembrando aos homens que, para
ser verdadeiros discípulos de Jesus
Cristo, é necessário primeiro segui-lo até as ignomínias do Calvário para
depois participar do triunfo da ressurreição.
Sim, foi sobre essas pedras
benditas, banhadas de sangue católico,
que nasceram as raízes da era em
que a filosofia do Evangelho dominou
sobre todos os povos.
Ouçamos, pois, atentos, um dos
emocionantes feitos que esses valos,
essas muralhas e arcadas têm a
nos narrar.
Inácio, o Teóforo
Corria o ano 106 da era cristã.
O imperador Trajano festejava
sua vitória sobre Decébalo, rei
da Dácia. Querendo manifestar
seu reconhecimento aos deuses, a
quem atribuía seu recente sucesso,
Trajano organizou uma perseguição
contra os cristãos que negassem
a existência dessas divindades.
Entre os condenados estava
um venerável ancião, presa de
grande valor, pois se tratava
do bispo de uma das cidades de
maior importância naquela época — varão que gozava de muita
estima e autoridade entre os fiéis
da Ásia Menor, por ter sido discípulo
do evangelista São João e
designado pelo próprio São Pedro
para assumir o cargo naquela
Igreja: Inácio de Antioquia.
Segundo uma antiga tradição,
o primeiro encontro entre o imperador
e Inácio dera-se quando
este último, sabendo da passagem
do césar por sua diocese, fora
apresentar-se voluntariamente
a ele. Submetido a um interrogatório
no qual Trajano tratou-o de “espírito malvado”, respondeu o
santo com majestade: “Ninguém
pode chamar a Teóforo de espírito
malvado”. “Quem é o Teóforo ou portador de Deus?” perguntaram-lhe.
“É aquele que leva a Cristo em seu
peito...” Instado pelo imperador para
que se explicasse mais sobre essa afirmação,
o homem de Deus declarou: “Está escrito: ‘Habitarei e andarei no
meio deles’” (2 Cor 6, 16). Assim, por
essas palavras, ele mesmo dava testemunho
de um milagre que viria a ser
confirmado após o seu martírio.
Trajano ordenou, pois, que Inácio
fosse acorrentado e conduzido a Roma,
sob a custódia de dez soldados,
para ali ser lançado às feras no anfiteatro
Flaviano.
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Dolorosa viagem, desfile triunfal
Grande foi a consternação dos fiéis
ao conhecerem a sentença que recaíra
sobre seu amado pastor. Ele, pelo
contrário, regozijava-se e não deixava
de dar graças a Deus por ter sido
achado digno de tão grande misericórdia.
Já antes da partida, embarcando
no porto de Selêucia, a notícia
de sua detenção espalhara-se por
aquelas regiões e de todas as partes
acorriam os cristãos para vê-lo passar
e dar um último adeus àquele que os
precederia no Reino dos Céus.
A dolorosa
viagem viu-se, então, transformada
em verdadeiro desfile triunfal.
Em Esmirna, o bispo São Policarpo,
acompanhado de seu rebanho, acolheu-
o com manifestações de homenagem
e respeito. Também as comunidades
de Éfeso, Trales e Magnésia foram-
lhe ao encontro em grande multidão,
desejosas de pedir sua bênção e
testemunhar os padecimentos daquele
atleta de Cristo. Ele, de seu lado,
não esquecera a missão que o Senhor
lhe confiara e continuava a exercer
seu ministério, apesar de ter as mãos
apertadas por grilhões. A muitos batizou
pelo caminho, a outros edificou
pelas suas palavras cheias de unção,
e a um número incontável inflamou
na caridade, arrastando-os com seu
exemplo a acompanhá-lo no martírio.
Seu zelo incansável levou-o a escrever
sete cartas, dirigidas àquelas
mesmas Igrejas que tão fervorosamente
o haviam recebido. Seus escritos,
verdadeiros tesouros de doutrina
e espiritualidade, podem ser considerados
como “a segunda formulação
doutrinária cristã"
Zeloso pregador da doutrina
Uma de suas principais preocupações
estava na união que os fiéis deviam
manter com Jesus Cristo, através
da legítima hierarquia: bispos e
presbíteros. Assim, exortava ele na
carta aos magnésios: “Esforçai-vos
por ficar firmes na doutrina do Senhor
e dos apóstolos, para que tudo quanto
fizerdes tenha bom êxito na carne e no
espírito, pela fé e pela caridade, no Filho,
no Pai e no Espírito, no princípio e
no fim, com vosso digno bispo e a bem
entretecida coroa espiritual de vosso
presbitério, juntamente com os diáconos
agradáveis a Deus. Sede submissos
ao bispo e uns aos outros como, em
sua humanidade, Jesus Cristo ao Pai,
e os apóstolos a Cristo e ao Pai e ao Espírito, para que a
união seja corporal e
espiritual."
Em outra
passagem, aconselhava
a seu amigo
Policarpo: “Tem
cuidado pela unidade,
pois nada há de
melhor.
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A dolorosa viagem transformou-se em verdadeiro desfile triunfal. Por onde passava as comunidades
cristãs iam ao seu encontro em grande multidão, desejosas de pedir sua bênção
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Ao bispo de Antioquia é devida a
honra de ter dado à Santa Igreja, por
primeira vez, o glorioso
título de católica: “Onde estiver
o bispo, ali estarão
também as multidões,
da mesma
forma que onde estiver
Jesus Cristo, ali
estará a Igreja Católica”.
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Construído para ser palco dos jogos de gladiadores, o Coliseu estava, porém,
reservado para os combates de fé e de heroísmo dos mártires -
Vista interna do Coliseu |
Também foi ele o
defensor de um ponto que só viria a
ser elevado à categoria de dogma séculos
mais tarde: o parto virginal da
Santa Mãe de Deus. Assim escreveu
aos efésios: “ao príncipe deste mundo
foi ocultada a virgindade de Maria, seu
parto e também a morte do Senhor”.
Aos seus caros esmirnenses também
afirmava: “Crendo de igual modo que
verdadeiramente nasceu da Virgem,
foi batizado por João ‘para que nele se
cumprisse toda a justiça.’”
A doutrina de Inácio era clara e
segura; ele a haurira dos lábios daquele
discípulo a quem tantos mistérios
haviam sido revelados ao repousar
a cabeça sobre o peito do Verbo
Encarnado e nos longos anos de convivência
com Maria Santíssima. “Procuro aquele que
morreu por nós!”
Entretanto, se as cartas deste insigne
doutor manifestam toda a riqueza
de seu ensinamento teológico,
uma outra ainda, aquela enviada aos
romanos, deixa entrever o sublime
ardor de sua alma, elevada aos píncaros
da mais pura mística. Tendo-lhe
chegado a notícia de que os fiéis de
Roma procuravam interpor toda sua
influência para afastar dele a mortal
condenação, apressou-se em dirigir-
lhes, desde Esmirna, uma comovedora
súplica: “Tenho escrito a todas
as Igrejas e a todas elas faço saber que
com alegria morro por Deus, contanto
que vós não mo impeçais. Suplicovos:
não demonstreis por mim uma benevolência
intempestiva. Deixai-me ser
alimento das feras, porque, através delas,
pode-se alcançar a Deus. Sou trigo
de Deus: que seja eu triturado pelos
dentes das feras para tornar-me puro
pão de Cristo!
Instigai, ao contrário, os animais
para que neles encontre o meu sepulcro
e nada reste de meu corpo para
não ser pesado a ninguém, depois de
adormecer. Então serei verdadeiro discípulo
de Cristo, quando o mundo não
mais vir sequer o meu corpo. Suplicai
a Deus por mim, que por este meio me
torne uma hóstia para Deus. [...]
Que nada, tanto das coisas visíveis
quanto das invisíveis, segure o meu espírito,
a fim de que eu possa alcançar
a Jesus Cristo. Que o fogo, a cruz, um
bando de feras, os dilaceramentos, os
cortes, a deslocação dos ossos, o esquartejamento,
as feridas pelo corpo
todo, os duros tormentos do diabo venham
sobre mim para que eu ganhe
unicamente a Jesus Cristo! [...]
Procuro aquele que morreu por
nós:
quero aquele que por nós ressuscitou.
Meu nascimento está iminente.
Perdoai-
me, irmãos! Não me impeçais
de viver, não desejeis que eu morra,
pois desejo ser de Deus. [...]
Vivo, vos escrevo, desejando morrer.
Meu amor está crucificado. Não há em
mim um fogo que busque alimentar-se
da matéria, apenas uma água viva e
murmurante dentro de mim, dizendome
em segredo: ‘Vem para o Pai!’ [...]
Se for martirizado, vós me quisestes
bem. Se for rejeitado, vós me odiastes.”
Expressões de tão heróica caridade
só poderiam brotar de um coração
tomado pela graça do martírio de
maneira superabundante. Com efeito,
assim nos explica São Tomás de
Aquino: “Entre todos os atos de virtude,
o martírio é aquele que manifesta
no mais alto grau a perfeição da caridade. Porque tanto mais se manifesta
que alguém ama alguma coisa, quanto
por ela despreza uma coisa amada
e abraça um sofrimento.
É evidente
que entre todos os bens da vida presente
aquele que o homem mais preza é a vida e, ao contrário, aquilo que ele
mais odeia é a morte, principalmente
quando vem acompanhada de torturas
e suplícios por medo dos quais ‘até
os próprios animais ferozes se afastam
dos prazeres mais desejáveis’, como
diz Agostinho. Deste ponto de vista, é evidente que o martírio é, por natureza,
o mais perfeito dos atos humanos,
enquanto sinal do mais alto grau
de amor, segundo a palavra da Escritura: ‘Não existe maior prova de amor do
que dar a vida por seus amigos.’”
Um lutador resignado
só pode ser traidor
Esta excelência da caridade que
pervadia o interior de nosso santo, só
tendia a crescer à medida em que se
sucediam as etapas da viagem que o
aproximavam da tão almejada meta.
Embarcando no porto de Dirraquio sempre sob o olhar vigilante dos
guardas, os quais ele mesmo chamava
de “dez leopardos”, a causa dos maus
tratos que lhe infligiam enfrentou
uma longa travessia, bordejando o sul
da Itália e, por fim, desembarcou em Óstia, a 20 de dezembro do ano 107, último dia das festas públicas que se
celebravam em Roma.
Na orgulhosa metrópole dos imperadores
comemorava-se ainda o
triunfo de Trajano sobre os dácios.
Durante 123 dias haviam-se prolongado
os espetáculos nos quais morreram
10.000 gladiadores e 12.000 feras.
O bispo Inácio era esperado com
ansiedade pela turba pagã, pois as vítimas
ilustres e de aspecto venerável
exerciam maior atração nos jogos circenses.
Por isso, os soldados para lá
conduziram-no sem demora. Os cristãos
receberam-no às portas da cidade,
com manifestações de sincera admiração
e respeito. Alegravam-se ao
vê-lo, mas lamentavam, ao mesmo
tempo, que lhes fosse arrebatado tão
cedo. Rogaram-lhe, então, que obtivesse
de Deus o favor de que algumas
relíquias suas lhes fossem deixadas
após o martírio. Embora contra
sua vontade pois ele desejava ser
devorado por inteiro o santo varão
acedeu bondosamente em fazerse
cargo de pedido tão filial.
Arrastando suas cadeias, Inácio
atravessou as ruas pavimentadas da
capital do império: ao longe podia
divisar os imponentes muros do Coliseu
dominando o vale, circundado
pelos montes Palatino, Esquilino e
Célio. Aquele edifício representava
para ele o termo de seus anelos, a realização
de suas esperanças mais íntimas,
a consumação de seu holocausto.
Caminhava apressadamente, não
com a resignação de um condenado,
mas impelido pelos ardores de entusiasmo
que não mais cabiam dentro
de sua alma, convicto de que o lutador
resignado é traidor. Aquele edifício
servir-lhe-ia de túmulo e de altar,
ao passo que seria o pedestal de onde
seu espírito voaria ao céu.
“Desejaria ser triturado
como o trigo”
Uma numerosa multidão acorrera
ao Coliseu para presenciar o sangrento
espetáculo e se deliciar com
o destroçamento do corpo do mártir.
Este, sereno e alegre, não manifestou
a menor vacilação quando as
grades foram abertas e entrou no vasto
anfiteatro, à espera do trágico momento
em que as bestas ferozes fossem
soltas. As vaias e os escárnios daqueles
pagãos para ele nada significavam.
Pelo contrário, eram-lhe uma
razão a mais para crer na invisível coorte
de bem-aventurados a esperá-lo
com uma palma e uma coroa.
Ouve-se um hurra na turbamulta,
sucedido por silêncio e um grande
suspense: os famintos leões irromperam
na arena e, impetuosos, avançaram
sobre a pura e inocente vítima
para devorá-la. Entretanto, com
a majestade e império que possuem
as almas tomadas pelo Espírito Santo,
o mártir estancou-as a meio caminho,
com um simples gesto de mão.
Num movimento solene, ajoelhou-se
e, elevando os braços ao céu, clamou
em alta voz: “Senhor, aqueles que me
acompanharam e que são também
vossos filhos, pediram-me que rezasse
a fim de que algo lhes sobre deste
martírio, para estímulo de sua fé.
Eu, por ém, desejaria ser triturado como
o trigo para vos ser oferecido como
hóstia pura. Senhor, fazei a vontade
deles e também a minha, eu vos
peço”.
Após a oração, assistida com estupefação
pela horda criminosa e pagã
e pelas feras, com respeito, eis que
ainda mais grandioso e nobre gesto
permitiu a estas últimas sair de seu
miraculoso encantamento e dar vazão
aos instintos de sua voraz natureza.
Em poucos minutos, lá entravam
os gladiadores a agrilhoar aqueles
animais que acabavam de saciar seu
bestial apetite com as carnes de um
novo serafim. A arena vazia, o espetáculo
terminado, retirou-se vagarosa
e frustrada a assistência. Que demonstração
de fé e de nobreza haviam
presenciado!
“Põe-me como um selo
em teu coração”
Os cristãos por ali ainda permaneceram à espera do cair do sol. E
quando o manto da noite passou a
cobrir a cidade de Roma, penetraram
na arena à procura das poeiras tornadas
relíquias ao serem embebidas pelo
sangue daquele que agora os precedia
na glória celeste.
Um milagre! Encontraram intactos
um fêmur e o coração! Tomados
de sobrenatural entusiasmo, caminharam
sem medir distâncias, rumo às catacumbas e depois de algumas
horas, constataram, à luz das lamparinas,
outro milagre: num círculo, as
veias e artérias do coração do santo
mártir, constituíam as célebres palavras:
Iesus Nazarenus, Rex iudeorum.
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“Instigai os animais para que neles encontre o meu sepulcro e nada reste de meu corpo para não ser
pesado a ninguém. Suplicai a Deus por mim, que por este meio me torne uma hóstia para Deus” |
Santo Inácio de Antioquia sendo devorado pelos leões – Igreja de São Clemente – Roma
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Inácio, o Teóforo, o portador de
Deus, atestara seu nome com aquele
comovedor prodígio. Seu coração
amante fora subjugado e modelado
pelo Amado, segundo aquele pedido
do Cântico: “Põe-me como um selo
em teu coração” (Ct 8, 6). Nem as
tribulações, nem as correntes, nem
os suplícios, nem a própria morte o
haviam podido separar do amor de
Cristo. Por sua santa vida, rica em
pregações, em caridade e exemplos,
assemelhara-se ao Divino Mestre,
imitando-o enquanto verdadeiro Pastor
das ovelhas. Por sua generosa entrega
levada ao extremo da imolação,
alcançara para sempre aquela “única
coisa necessária” (Lc 10, 42): o convívio
eterno com Aquele a quem só
procurara na Terra, Jesus!
A este santo varão de Deus bem
poderiam ser aplicadas as belas palavras de um autor medieval: “Forte é o amor, que tem poder para privarnos
do dom da vida. Forte é o amor,
que tem poder para restituir-nos o gozo
de uma vida melhor. Forte é a morte,
poderosa para despojar-nos do revestimento
deste corpo. Forte é o amor, poderoso
para nos roubar os despojos da
morte e no-los entregar de novo.
Forte é a morte, a ela o homem não
pode resistir. Forte é o amor que pode
vencê-la, embotar-lhe o aguilhão, travar-
lhe o ímpeto, quebrantar-lhe a vitória.”
E uma vez mais caiu a noite sobre
a grandiosa mole do Coliseu. As
areias do circo pagão, regadas pelo
sangue daquele que portara a seu
Redentor no peito, transformaramse
de novo em campo arado e fértil,
de onde germinariam muitos outros
filhos da Esposa Mística de Cristo.
VER MAIS EM:
1) CRISTIANO, Año. BAC, Madrid,
2006, v. X, p. 426-434.
2) Carta aos Magnésios, in Liturgia das
Horas. São Paulo: Paulus, 2000, v.
III, p. 473.
3) Carta a São Policarpo, ibidem. São
Paulo: Paulus, 2000, v. III, p. 510.
4) CRISTIANO, Año. Ibidem, p. 429.
5) BUTLER, Alban. Vidas de los Santos
de Butler. México: John W. Clute
S.A. 1968, v. I, p. 220-224.
6) Carta aos Esmirnenses, in Liturgia
das Horas. São Paulo: Paulus, 2000,
v. III, p. 122.
7) Carta aos Romanos, ibidem. São
Paulo: Paulus, 2000, v. III, p. 289-
290,293-294.
8) Suma Teológica II-II q.124 a.3
9) Tratados de Balduíno da Cantuária,
in Liturgia das Horas. São Paulo:
Paulus, 1999, v. IV, p. 59-60.
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