"CRESCEI E MULTIPLICAI-VOS"
Autora: Lia Pantoja Milhomens
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09/09/2007 |
Ontem li uma reportagem na
revista “Veja” desta semana, a propósito de constantes discussões que ainda
existem em escolas adventistas, sobre a real teoria da origem humana, se
a criacionista, conforme nos dá notícia o Velho Testamento , ou a
evolucionista, conforme os estudos de Charles Darwin.
Há alguns anos adotei o
hábito de meditar por meia hora à noite antes de deitar-me , a respeito dos
acontecimentos do dia, e, ao acordar, pelo mesmo espaço de tempo, e tenho
notado algum tipo de esclarecimento , pela manhã, sobre algumas indagações que
me tenho feito antes de dormir.
Foi assim que, após a
leitura daquela reportagem, meditei sobre ela e, a seguir , caí em profundo
sono . Tive um sonho muito interessante, que se iniciou com uma belíssima
paisagem, em um local maravilhoso, tendo ao fundo um enorme portal aberto,
de onde saíam dois jovens belíssimos, um rapaz e uma moça, de mãos
entrelaçadas , vestidos com uma roupa estranha, parecendo feitas de grandes
folhas de vegetais verdes. Em todo o ambiente, fazia-se ouvir, em um som
que mais parecia música, inundando todos os recantos , e cujas palavras
apenas se podia entender mas não ouvir , uma voz profunda e serena, dizendo:
“Crescei e multiplicai-vos!”. Então , cessada essa mensagem, os dois, que
correram e ficaram durante ela com os rostos cobertos com as mãos, pararam .
Com os olhos bem abertos, passaram a observar o ambiente ao seu redor.
Avistando-me, fitaram-me e sorriram , convidando-me para prosseguir com eles
uma longa caminhada. Assim, fomos os três caminhando e conversando pelo
caminho, até encontrarmos uma linda floresta, com plantas e animais meus
conhecidos,onde ficamos e, finalmente, despedimo-nos.Durante o percurso,
notei que o local se tratava do nosso planeta. Quando despertei, na manhã
seguinte, senti-me tomada de uma vontade enorme de escrever sobre o que
se passara naquela realidade onírica.
Aquele sonho tratava de Adão e
Eva, pareceu-me, mas não como retratados em quase todas as ilustrações
em livros históricos e religiosos, mas no momento que se seguiu à
chegada deles à Terra, já conformados com a determinação divina de
excluí-los do Paraíso e convencidos de que deveriam construir uma nova vida
naquela sua nova habitação, atendendo àquela última determinação que
receberam do seu Criador.
A chegada daquelas duas
criaturas ao planeta Terra é uma segunda etapa de um mesmo acontecimento, não
muito esclarecida em todos os compêndios teológicos ou históricos, que
passam da saída delas do Paraíso para acontecimentos com os seus dois filhos,
Caim e Abel, deixando em branco o período intermediário.
Como explicava Rousseau,
em sua obra “Contrato Social”, há certas fases da História sobre as
quais não se encontram narrativas ou comprovações científicas. E então
há de ser utilizado o raciocínio filosófico para que se possa fazer uma
ponte suficientemente resistente a críticas, entre os episódios anteriores e
posteriores a elas. E, parafraseando-o, logo ao início do Livro Primeiro,
afirmo que “entro na matéria sem demonstrar a importância do meu assunto.
Perguntar-me-ão se sou uma freira católica,um bispo adventista , uma
teóloga, para escrever a respeito de teorias sobre a origem da vida.
Se fosse uma ou outra coisa, não perderia meu tempo escrevendo esta
crônica, apenas para conversar com vocês, mas estaria lançando uma teoria
nova e defendo-a diante de bancas examinadoras e tentando convencer as
pessoas a aceitá-las. Tendo nascido como ser humano, cidadã de um estado
democrático, educada e vivendo sob a doutrina cristã, por livre escolha,
embora fraca seja a influência que minha opinião possa ter sobre os assuntos
religiosos, o direito de sobre eles falar basta para impor o dever de
instruir-me a seu respeito, sentindo-me feliz todas as vezes medito” sobre as
coisas divinas, “por sempre encontrar, em minhas cogitações, motivos para
amar o meu Criador” . (Cf. Jean Jacques Rousseau :Du Contrat Social ou
Príncipes du Droit Politique, ed. C.E.Vaughan,Manchester,1947,início do Livro
Primeiro).
Expostas todas as razões
acima, e aproveitando os conhecimentos que a moderna ciência biológica tem
colocado ao nosso alcance, aliada a uma grande experiência no trato com o
ser humano dentro de seu aspecto mais específico, o exercício do livre
arbítrio, em razão da carreira jurídica que abracei , pude obter uma nova
visão do acontecimento adâmico, teorizando sobre a fase intermediária
contida no período da saída do paraíso e o da compreensão pelos dois humanos
de que deveriam reiniciar as suas vidas , dando cumprimento à ordem
divina que receberam junto ao Portal : “crescei e multiplicai-vos”.
Para início, devo estabelecer
a partir de que premissa será analisada toda a questão , sem
necessidade de remontar a toda a história , pois é a mais conhecida em todo
o mundo , analisando duas hipóteses :
Primeira Hipótese :
Se considerarmos a
Divindade como sendo autoritária, vingativa e irascível, dentro e fora do
seu próprio Paraíso, então se pode encarar o Seu ato como tendo sido
apenas um castigo porque o homem e a mulher desobedeceram a Suas
determinações e também desejaram saber segredos que não podiam alcançar (um
Deus digno apenas de ser temido, na forma como no-Lo apresenta toda a
narrativa da senda humana no Antigo Testamento).
Sob essa visão , a saída do
Paraíso e a Sua ordem para que os humanos crescessem e se multiplicassem ,
foram um castigo pelo que se chamaria de “pecado original” , ou podem ser
interpretadas como uma maldição sobre aqueles dois e todos os seus
descendentes. Mas , segundo essa interpretação, não se terá uma explicação
para uma outra face do mesmo acontecimento : se eles foram criados com o livre
arbítrio, segundo a vontade do Criador, onisciente que é , sempre soube que
seria desnecessária essa qualidade, se eles não tivessem de ser nunca
submetidos a nenhum dilema, ou que, se submetidos , sempre o resolveriam
conforme a Sua vontade - neste último caso, não haveria liberdade de uma
dúvida na valoração pessoal e, portanto, não existiria livre arbítrio. A
decisão diante do dilema apresentado pela “serpente do paraíso”, deve-se
entender, não agradou ao Criador -- eis que o livre arbítrio do homem não
funcionou corretamente, conforme o Seu desejo.
Por outro lado, pergunta-se
: se não gostou do resultado da Sua criação, nada impediria o Criador de
exterminá-la, a não ser Sua própria vontade,porque é onipotente. Por que,
então, resolveu livrar a espécie humana da extinção naquele momento, em que
eram apenas dois indivíduos e não podiam ainda causar danos aos outros
seres, e até determinou seu crescimento e multiplicação – seria para que
servissem de exemplo a todos aqueles que ousassem desobedecê-Lo, ou, então,
apenas por piedade? E, por que, tendo o poder de transformar e melhorar,
poder esse contido no próprio poder de criação, Ele não fez,
simplesmente, uma pequena modificação no DNA de Adão e Eva e, a seguir ,
os devolveu à vida paradisíaca, mas se contentou em vê-los proliferarem
como os ratos ou coelhos e permitiu que seus descendentes se tornassem
os maiores predadores deste planeta, temidos por todas as outras espécies
também obras de Sua criação? Alegue-se,, por oportuno, que o DNA da
“serpente do paraíso” , no mesmo episódio, foi modificado por Ele, pois ela,
segundo a narrativa bíblica, que até então caminhava, passou a se arrastar
pelo chão, como atualmente o fazem todos os da sua espécie. Vê-se, assim, que
Sua idéia foi de aproveitar ambas as suas criações .Mas , segundo essa
hipótese, uma pergunta fica sem resposta : por que será que a serpente teve
de pronto sua forma física modificada e o humano, segundo a mesma narrativa,
pelo menos naquela ocasião não a teve?
Portanto, de acordo com essa
primeira hipótese, só se pode concluir que Adão e Eva já foram criados,
desde o início, perfeitos e completos e por isso mesmo seu ato foi uma
rebelião contra seu próprio Criador. Diante dessa rebelião e da reação
divina de expulsá-los do Paraíso, também se há de imaginar que Ele teria
uma razão para determinar o seu crescimento e multiplicação - sendo Ele
onisciente, não tinha também plena consciência de que, mantidos naquele
estágio, sem qualquer evolução, com a inteligência que lhes deu e um
defeituoso livre arbítrio, eles e todos os seus descendentes se tornariam,
mais tarde, os piores e mais numerosos predadores do Planeta Terra , e
depois, de todo o Universo, levando a destruição a todas as outras espécies e
coisas por Ele criadas?
Dentro dessa hipótese
existem inúmeras indagações sem resposta, principalmente aquela relativa ao
fato de termos sido criados à imagem e semelhança do Criador, se somos tão
imperfeitos, sendo Ele a Perfeição Máxima. Talvez essa imperfeição tenha sido
intencional por Ele. E tenha sido mesmo por causa dessa imperfeição que
não tivéssemos entendido Suas determinações , dentro e fora do Paraíso.
Defeituosos desde o início , nosso defeito ainda estaria persistente até
esta data, e por isso mesmo, não pudemos nunca compreender o que nos
era determinado por Ele , e não pudemos agir como era esperado de nós, até
mesmo diante da atividade salvadora que cumpriu entre nós o seu Enviado.
Enfim, de acordo com a
teoria criacionista, sem se admitir a hipótese de evolução, estaríamos
fadados a continuar eternamente como seres defeituosos pelo próprio DNA
adâmico, transmitido até o fim dos tempos, a todos os seus descendentes,o
que estaria em contrário ao nosso conhecimento de que Deus é infinitamente
Justo. Por outro lado, estaríamos alijados da lei da natureza de seleção
natural das espécies, e , portanto, incapazes de cumprir a ordem Dele de
crescermos --- ela só poderia ter sido dada no sentido evolucionário, pois
se Adão e Eva tivessem sido criados adultos, perfeitos e acabados ,tanto
física quanto moralmente, não haveria motivo para ela ser dada.
Segunda hipótese :
Se considerarmos a Divindade
como sendo justa e amorosa, onisciente ,onipresente e onipotente, na forma em
que no-la apresentou Jesus Cristo nos relatos do Novo Testamento, então se
pode encarar o Seu ato como representativo de uma segunda etapa no processo
criador do humano, na qual esta espécie deveria desenvolver características
especiais morais e psíquicas - uma oportunidade compulsória para a sua
evolução . Neste caso, não foi o fato da desobediência que O fez entender que
sua criação não estava completa , mas sim , a constatação de que o homem e a
mulher ainda não haviam atingido o estágio de desenvolvimento necessário à
plenitude de sua criação. Se os desejasse seres inteligentes mas incapazes de
contestar, de decidir conforme sua própria e única avaliação, Ele os teria
feito exatamente como os anjos, que, por terem em si mesmos grande parte de
Sua essência, não necessitam analisar suas ordens para cumpri-las, pois já a
compreendem desde o início e por isso as cumprem sem qualquer indagação; já
ao humano, que não tem a Sua essência, mas apenas semelhança, é que foi
dado ,como compensação, o livre arbítrio, que implica em um juízo de
valoração para poder ser exercitado .E esse juízo de valoração só pode
ser feito perfeitamente se o seu detentor possuir, também, uma perfeita
capacidade de avaliação, que não pode ser adquirida de fora para
dentro, ou seja, dada também pelo seu Criador, ou por outro ser, no caso a
serpente, mas há de ser desenvolvida pelo próprio humano, como qualidade
intrínseca, obtida por experimentação - aí, sim, podemos compreender o
episódio da proposição da serpente como um teste de qualidade à semelhança
do que os fabricantes fazem em seus produtos hoje em dia antes de
colocá-los à disposição do mercado. O episódio da “expulsão do paraíso”
seria então,uma forma de propiciar aos dois humanos um ambiente em fase
evolutiva também, em cujo inter-relacionamento teriam a necessária
oportunidade para adquirir experiência e desenvolver seu juízo de valoração
, podendo-se entender claramente que esse foi um ato de amor, e, não, de
vingança. Certamente alguma razão ocorreu ao Criador para fazer um ser à sua
imagem e semelhança, com a inteligência dos anjos, mas desprovido de Sua
essência, com características de animais, mas provido de livre arbítrio, e,
certamente, ao imaginá-lo dessa maneira , também reservou para ele
determinada finalidade que, àquela altura, demonstrou ainda não ter a
capacidade de atender. Atingir a plena capacidade para atender as
finalidades do Criador, embora não saiba quais são elas, é um dever do ser
humano, e, certamente, isso faz parte de um plano evolucionista.
Em qualquer uma
dessas duas hipóteses, o que é de todo certo é que um ser tão
inteligente jamais daria uma duplicidade de ordem em uma mesma frase,
ou seja, não diria palavras vãs e não cometeria pleonasmo : logo, crescer
certamente está empregado em um sentido completamente diferente de
multiplicar-se. Isso porque, se considerados Adão e Eva como produtos
acabados, como teriam sido na primeira hipótese , eles não poderiam mais
crescer individualmente nem no sentido físico nem no moral - e aí,
realmente , não se poderia falar em evolução e os Adventistas teriam
toda razão em não aceitar qualquer teoria nesse sentido, pois
contrariaria completamente a idéia de que os humanos já teriam sido
criados com o aspecto físico e moral que possuem atualmente.
De qualquer forma,
alguém poderia dizer-me que , em sede científica, uma teoria somente
se tem como verdadeira quando é comprovada e que, por isso mesmo, se a
criacionista não resultou provada, também a evolucionista ainda não o
logrou e, sendo assim, a que parece mais lógica a uns pode não parecer a
outros e, enquanto qualquer uma não for provada , não se pode condenar
ao extermínio nenhuma delas. Há quem , no meio científico, não sendo
adepto do credo adventista, afirme que a teoria evolucionista se aplica
apenas aos habitantes de Galápagos, a ilha estudada por Darwin, e
nisso se baseiam os que decidiram aceitar a “Teoria do Desenho
Inteligente”.
A partir dos anos
80 do século passado, com o evento da nova biologia, muitos cientistas ,
biólogos , matemáticos e filósofos, reavivaram uma teoria do século XIX,
desenvolvida por William Paley e Richard Dawkins, apresentada no livro “O
Relojoeiro Cego”, e, com alguns aspectos de modernidade, formularam a teoria
do Desenho Inteligente – que nem aceita o criacionismo, que dizem ser religião e
não ciência , nem o evolucionismo, que acusam não ter método científico.
Eles afirmam que se pode verificar, no mundo, a existência de “específicas
complexidades” a indicar a presença de um desenho inteligente, especialmente
nos indivíduos orgânicos, muito mais complexos do que os inorgânicos. Para
eles o desenhista inteligente não seria necessariamente Deus, até porque
alguns dos seus adeptos, como Dawkins , são ateus e outros,naturalistas,
entendem que a própria seleção natural se encarregaria de desenhar essas
fórmulas orgânicas complexas. E que esse desenho seria feito a partir de
moléculas, onde, sim, se operaria a função da natureza desenhista. Mas
também não aceitam a seleção natural, por entenderem que organismos
excessivamente complexos não podem ser originados de mero acaso e nem poderiam
ter sido feitos ao mesmo tempo, como se entenderia no criacionismo, ao passo
que outros entendem que existe o Grande Desenhista, em última análise, o
Criador, ou Deus. Seus representantes mais proeminentes em nossos dias são
Michael Denton, Michael Behe, Philip E. Johnson, dentre outros.
Por outro lado,
alguém há de me recordar que em nosso planeta não existem apenas seres
bons e prestativos, mas, também, predadores, em todos os ambientes, e nem por
isso podemos dizer que eles não estão em processo avançado de evolução. E que,
sendo o ser humano apenas mais um deles, também não posso apresentar esse
argumento para dizê-los inacabados. Ao que, de pronto, replico ser de
conhecimento científico e filosófico que os demais seres terrestres,
especialmente os predadores, não são dotados de livre arbítrio e, sendo
assim, não têm eles o dever de fazer uma avaliação e, como irracionais, não têm
discernimento sobre o que seria o bem e o mal. A respeito da indagação sobre o
que seria o bem e o que seria o mal, não vou penetrar em nenhuma
discussão sobre assunto de tão alta indagação teológica e filosófica, porque
esse assunto é indiferente aos fundamentos do criacionismo, do evolucionismo
, ou do desenho inteligente, pois não é ponto abrangido por nenhuma dessas
teorias.
À luz da
linguagem da genética, podemos, além disso, dizer de outra forma, que ,
quando se fala que foi criado primeiro Adão e depois Eva , de um
pedaço daquele, também não se pode negar completamente , que esses
nomes estariam sendo dados a dois DNAs, tendo sido construído o do
macho primeiro e depois, o da fêmea, acrescentada neste segundo uma
característica que seria do primeiro e que lhe ficou faltando, e que ficou a
mais no segundo — e por isso a alusão a que a mulher tenha sido criada a
partir de um pedaço retirado do homem.
Ora, dirá grande
parte das pessoas, se Adão e Eva foram feitos à imagem e semelhança do
Criador, não haveria necessidade de um DNA particular para eles. Ainda aí
posso responder que nenhum humano é capaz de conhecer a verdadeira aparência
divina, até porque o nosso cérebro, no estágio em que se encontra, não tem
condições de poder conceber a verdadeira natureza do Ser Divino,quanto
mais a sua aparência — nós , a partir do judaísmo e durante toda a história do
cristianismo é que , no decorrer das épocas, decidimos dar a Deus a nossa
própria imagem e, a partir dela , dá-la a Adão e Eva. Mas todas essas
representações que sempre fizemos foram apenas ilações das nossas próprias
mentes. E o atual DNA dos humanos é quem lhes dá essa aparência dos dias de
hoje, sendo esse um fato comprovado cientificamente e não mera imaginação.
Apenas para argumentar, digo-lhes que , se nós, ocidentais, tivéssemos o
aspecto de orientais, como os chineses, teríamos idealizado tanto a
figura de Deus quanto a de Adão e Eva , com as mesmas características de
chineses . Já o maometanismo, que é a outra religião monoteísta ,
procedente da raiz comum judaica, não faz representações figurativas de
Allah, que é o nosso mesmo Deus, e nem por isso Ele deixa de ser o mesmo
Ser Supremo que amamos e adoramos.
Outros
argumentarão que ainda não está estabelecido cientificamente , se há reais
diferenças entre o atual DNA humano e o daqueles que iniciaram a
humanidade — o aspecto externo é de somenos importância, se é isso que
tanto incomoda a muitas pessoas — , e , por outro lado, também não há provas
suficientes de que realmente houve um aumento do nosso cérebro, lembrando-nos
que, há alguns anos, tínhamos o homem de Neanderthal como nosso antepassado, mas
há pouco tempo essa hipótese foi descartada, como poderão, ainda , ser
descartadas outras tantas de caráter evolucionista.Enfim, pouco sabemos para
que possamos afirmar a veracidade de uma e o erro ou lacunas em teorias
atualmente aceitas.
Poderá alguém , digamos ,
um ateu convicto, que nega a existência de Deus, dizer que o criacionismo
não existe simplesmente porque Ele não existe. Mas a própria inexistência
de Deus que ele alega não é senão uma teoria que nem ele mesmo conseguirá
provar . Para alguns, até, o ateísmo é uma religião daqueles que não aderem às
regras das religiões (eles seriam praticantes de regras irreligiosas ,como o
Humanismo, o Racionalismo e o Agnosticismo), uma religião não teísta. Baseado
em uma teoria não comprovada (a que prega a inexistência de Deus) um indivíduo
não consegue demonstrar qualquer uma outra , o que seria inconcebível
concebível nem pelo método científico nem pelo filosófico. A própria teoria do
desenho inteligente é aceita tanto por teístas quanto por ateístas.
Imaginemos, então, Adão e Eva
no dia seguinte à sua exclusão do Paraíso, tendo já divisado toda a
beleza e esplendor do planeta em que se encontravam, onde também havia
meios para sua subsistência. Devem ter compreendido que, para obtê-los,
necessitavam de desenvolver habilidades. E pensemos em nós, hoje. Também
continuamos a necessitar sempre de desenvolver habilidades — quer no campo
material, para apenas existir, quer também no moral — , para satisfazermos
aquele plus que nos foi dado pelo Criador , para podermos desfazer todos
os nós das dificuldades que nos amarram e prejudicam
psicologicamente.Porque o ser humano não é composto apenas de matéria,
mas também de psique. E se não há um desenvolvimento também da psique,
par e passo com o tecnológico, não pode a humanidade considerar-se
suficientemente evoluída para bem aplicar o seu livre arbítrio, notadamente
no uso das novas tecnologias descobertas — desenvolvimento é sinônimo de
evolução, e no caso humano, abrange esses dois aspectos.
Se ainda há o que
desenvolver, não podemos considerar uma coisa ou uma pessoa como perfeita e
acabada. Só para ilustrar, pensemos no telefone celular e no computador. Até
meados do século passado , essas novidades tecnológicas não haviam sido
distribuídas em público. A partir do momento de seu aparecimento, as pessoas
que não os conheciam tiveram de adquirir novas habilidades para manuseá-los
e para poderem participar da vida civil e comercial que se modificou com o
advento dessas invenções. E , simultaneamente, formou-se o fenômeno da
globalização — quem não adquiriu ou não vier a adquirir a necessária
condição para se comportar conforme a exigência das novas situações
criadas por esses eventos estará completamente alijado , em futuro próximo,
das novas benesses da vida em sociedade em nossos dias . Até eu mesma, se
não tivesse aderido ao uso dessas novidades e aprendido a utilizá-las , não
poderia ter criado e desenvolvido o IEJU-SA, que é um Instituto Cultural com
utilização essencial da realidade digital e da Internet, para estabelecer o
inter-relacionamento nacional e internacional, e nem se poderia idealizá-lo
se essas novidades tecnológicas não existissem, e nem concretizá-lo, se os
seus administradores não tivessem desenvolvido as necessárias habilidades.
Isso tudo é, sem dúvida, um aspecto de uma evolução, e a escolha da
finalidade para que as habilidades adquiridas vão ser utilizadas, sim, é
um outro aspecto dessa mesma evolução e faz parte da aplicação de um juízo de
valor necessariamente desenvolvido para o bom exercício do livre arbítrio.
Segundo uma abordagem
menos mística e mais racional, pode-se imaginar Adão e Eva colocados pelo
Criador diante do dilema da serpente para aquilatar se estava completa essa
sua criação, mais complexa do que as demais, ali naquele Paraíso (cabe aqui
lembrar que o fato da existência de seres mais complexos do que outros é o
fundamento da teoria do “Desenho Inteligente”). Também podemos deduzir que
havia outras criaturas igualmente complexas a quem testes também foram
apresentados e que lograram ser aprovadas - somente nos contaram o nosso
caso, por ser apenas ele, aparentemente, de interesse para nós. Tendo o
Criador constatado que o livre arbítrio humano funcionava, constatou também
que faltava ao humano desenvolver uma capacidade intrínseca a ele mesmo, não
só de fazer a opção, mas de bem se conduzir na sua escolha, e esse
desenvolvimento somente pode ser feito com a evolução dessa capacidade, que
é moral e ética, relativa à psique. Este desenvolvimento não pode ser
colocado de fora para dentro do indivíduo , mas deve brotar da semente
intransmissível da experiência individual de cada um, de dentro para fora,
pois!.
Pensemos : e se a esta
altura o Criador resolvesse acreditar em nós, que nos consideramos tão
perfeitos, e entendesse também dessa forma ? E que por isso não nos submetesse
a nenhum teste de qualidade e nos reconduzisse de pronto ao Paraíso? Será que
dentro de alguns anos não teríamos destruído também o Éden, assim como
estamos fazendo com a Terra? E se Ele resolvesse nos submeter a um
teste, digamos, assim parecido com o teste a que fomos submetidos, nas
pessoas de Adão e Eva, naqueles imemoriáveis tempos - será que não
faríamos pior do que aqueles dois ? Aqueles dois retiraram apenas uma maçã
da árvore do conhecimento.E nós , será que nos contentaríamos apenas com um
pequeno fruto ou seríamos até capazes de jogar uma bomba atômica em todo
o Paraíso, só para nos apossarmos de todo o pomar ?
Na verdade, quer abracemos uma
ou outra teoria sobre a nossa origem, chegaremos sempre à conclusão de que a
espécie humana, como um todo, está na idade infantil , pois ainda não
cresceu moralmente , e muito se multiplica. Crianças curiosas e
desobedientes, são essas pessoas que teimam em não evoluir moralmente,
ficando incapazes de fazer um juízo de valor acertado, munidas de
tecnologias perigosíssimas, sem discernimento para o seu uso, tornando-se
destruidores do meio ambiente , não conseguindo enxergar o próximo com
respeito, submetendo-o aos horrores da guerra , da fome, da falta de
instrução e negando-lhes oportunidades de chegarem ao estágio tecnológico que
já alcançaram : estas pessoas , quando detêm o poder, apresentam-se como um
grupo poderoso, permanecem aborrecidas e lamentadoras, pensando ainda como
Adão e Eva antes da queda, e não atendem às leis da Natureza, desnecessárias a
seu ver, impostas por capricho de um Criador que não deseja ser assemelhado.
Esse ponto de vista empata a sua evolução e a dos demais que dependem
materialmente de suas decisões para qualquer desenvolvimento pessoal ou
coletivo.Se, por outro lado, todos já nos tivéssemos tornado adultos, no
sentido da ordem divina para crescer (física e moralmente),sem dúvida a única
opção sensata ,poderemos estar completamente responsáveis e adultos e então
fazer a escolha acertada, segundo o conceito do Criador e da Natureza. Este
fato será apurado em um próximo teste que nos venha a ser colocado, pois se
assim não o fosse , não haveria necessidade de terem vindo tantos homens
santos, especialmente Jesus Cristo, para nos ensinar “o caminho, a verdade e
a vida” . Caminho para onde ? Somente para um lugar , ou seja, o Paraíso ,
onde quer que ele esteja ou o que quer que ele signifique.
Individualmente, existiram e
ainda existem seres humanos terrestres muito evoluídos, mas a evolução de
uma espécie não se conta por um ou vários representantes, que, enquanto não
formam a maioria, são considerados apenas “mutantes” , “esquisitos” ou
“desequilibrados”, sendo até muitas vezes desconsiderados e escarnecidos
pelos seus irmãos. Àqueles que já enxergam bem o descalabro existente, cabe
o dever moral de alertar os demais. O maior dos Profetas e Enviados , há
mais de dois mil anos, bem no momento de sua morte, deixou ainda esse
clamor de alerta, não exatamente para Deus, que tudo sabe, mas para nós ,
capazes daqueles horrores que contra ele praticamos e outros mais que ainda
hoje continuamos a praticar : “Pai, perdoa-os, pois eles não sabem o que
fazem”. Ora, somente não sabem o que fazem, e por isso mesmo devem ser
perdoados, os loucos de todo gênero e as crianças. Até entre povos menos
aculturados do nosso planeta não são dadas penas a esse tipo de
pessoas, consideradas irresponsáveis, as primeiras por incapacidade total
de raciocínio psíquico e moral e, as segundas, por não poderem se conduzir
segundo esse entendimento, ou seja, falta de desenvolvimento moral e
intelectual . Devemos, pois, entender que a humanidade, como um todo, não
está no primeiro caso, pois , com o poder divino de cura que Jesus
possuía e com a evolução tecnológica que hoje em dia existe, ela já
teria sido curada há muito tempo e não teria sido necessário aquele Seu
inimendisionável sacrifício na cruz, para a nossa salvação. Sim, ele foi
realizado porque, para livrar-nos desse torpor horrível em que estamos
ainda envolvidos, foi necessário um acontecimento de igual grandeza de
sofrimento.E esse despertar seria, sim, a nossa salvação. Mas parece que a
grande maioria das pessoas ainda não compreendeu sequer o significado de tão
grande sacrifício.
Agora, que já entende a
humanidade a existência de outros planetas, outros universos, sente-se
impelida a conhecê-los, a visitá-los, a se adonar deles, eis que o nosso
planeta está quase todo destruído por ela mesma ,que tem necessidade de
estender suas fronteiras. Mas continua com o mesmo pensamento da época dos
Grandes Descobrimentos : julga que não existem outros seres evoluídos
nesses novos lugares , e se alguém , pelo raciocínio lógico ou por outra via
consegue colocar outras pessoas ao menos na dúvida, de pronto estas afirmam
que, se for realidade essa afirmação, esses seres nos serão inferiores. Com
esse pensamento, já começamos a era espacial , levando um preconceito contra
eventuais povos a serem encontrados, que , se o forem, fatalmente ,
deverão ser diferentes de nós, até porque os ambientes em que estarão
vivendo é diverso do nosso, tendo dado aparecimento a outras formações
da Natureza. Munidos ainda da agressividade infantil , pois não conseguimos
nem conviver pacificamente dentro do planeta Terra, como decerto o faríamos
se fôssemos adultos.
Se, por hipótese, nos
depararmos com outras civilizações,com esse comportamento irresponsável que
possuímos - repetiremos o que fizemos aos maias, aos astecas, aos incas
e a outros, nas Américas? Ou então, antes que o façamos, seremos
impedidos por seres muito superiores a nós ?
Nós, ocidentais e orientais
monoteístas, deturpamos a ordem divina e cumprimos a segunda parte da
mesma, sem cumprir a primeira, condição essencial para a segunda, alegando
que a mesma se referia ao completo desenvolvimento da capacidade física e
reprodutiva e nos multiplicamos indiscriminadamente neste querido planeta
como pulgas, ratos ou coelhos, sem ao menos indagarmos se já possuímos
condições de conviver , como se espera de um adulto , ou se ficaremos
sempre esperando a chegada de um “salvador” para conduzir-nos pela mão como
se faz com crianças ou apascentar-nos, como se faz com as ovelhas ou o
gado. Esquecemo-nos de que toda a mensagem dos enviados por Ele , nossos
Mestres, desde o início de nossas civilizações, foi de que devíamos ser
ensinados, mas o dever de assimilar as lições e galgar etapas mais
elevadas em nossa formação era apenas nosso – se não fosse assim, se
o ser humano, como um todo, necessitasse sempre de alguém que o
guiasse ou se sacrificasse por ele, num eterno círculo vicioso, então
vem de pronto a seguinte pergunta :
Por que seria então, cada
um de nós , humanos terrestres, munido do livre arbítrio?
E se estivermos colocados
diante do nosso segundo dilema , agora,do jeito em que colocamos nosso
planeta : seria a nossa decisão correta como um segundo rito de passagem,
da idade infantil para a idade adulta, ou talvez a nossa perdição eterna?
Poderemos demonstrar o nosso estágio evolucionário de acordo com um dos
três resultados : ou o encontro do caminho de volta ao Paraíso (em síntese
nosso objetivo final, apesar de não sabermos exatamente no que ele
consiste) , ou banimento do planeta Terra para outro local (uma segunda
oportunidade), ou o sermos destruídos totalmente, como espécie que não deu
certo (uma espécie incapaz de atingir sua finalidade).
Ao final de minha meditação ,
só pude concluir que devemos crescer moralmente com urgência para,
responsavelmente, como adultos, com nosso livre arbítrio, decidir se
desejamos que a humanidade terrestre seja conhecida , no restante do
Universo, como uma onda de gafanhotos que onde chega tudo destrói, ou
amantes da paz, capazes de ensinar alguma coisa e aprender muito mais , e
de participar plenamente dessa maravilha que é a Vida, no seu mais amplo
sentido.
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